Escrever sobre a Fundação Rotária neste mês dedicado a ela é um prazer muito grande para mim. No Rotary, temos pessoas vindas de diferentes áreas. Algumas são ligadas à imagem pública, outras ao desenvolvimento do quadro associativo, outras ao intercâmbio de jovens e por aí vai. O mundo do Rotary é muito amplo e podemos servir em diversas frentes – e há áreas para todos os gostos.
Eu vim da Fundação Rotária. Minha vida toda foi ligada a ela. Servi como coordenador regional da Fundação Rotária e como coordenador regional de Grandes Doações, além de ter sido líder de treinamento do Plano Visão de Futuro durante a Assembleia Internacional de 2010, em San Diego. Acompanhei de perto a execução das mudanças nos distritos, estratégia que procurava criar áreas de enfoque, projetos maiores, com mais visibilidade e sustentabilidade. Tudo isso foi uma grande escola para mim.
Mas o que mais me dá prazer é ir a campo e ver os projetos acontecendo. Como sempre digo, o Rotary é uma máquina de transformação de vidas que cria esperança no mundo. Falar do Projeto Aguapé, que visitei no Rio Grande do Sul, é algo que nos faz sentir poderosos. Voltado à limpeza das margens e das águas do rio Gravataí e à educação ambiental das populações ribeirinhas, esse trabalho evidencia a necessidade de sermos rotarianos, o que a Fundação Rotária mostra claramente com seus projetos. E quando a comunidade se engaja com o Rotary para fazer acontecer, ninguém nos segura.
Sinto-me recompensado por Deus pela oportunidade de ter acionado a Fundação em diversos momentos de catástrofes e desastres, como ocorreu durante as fortes chuvas que atingiram a Serra Fluminense e a região de União dos Palmares, entre Pernambuco e Alagoas, no ano de 2010. Cada uma dessas localidades recebeu, respectivamente, um total de 2.000 e de 800 abrigos de emergência da ShelterBox, com valores de US$ 2 milhões e US$ 800 mil. Fico muito emocionado ao lembrar desse momento, talvez o mais marcante da minha trajetória rotária. O poder de entregar um abrigo a quem perdeu tudo é algo mágico e único. Acionamos nossa Fundação diversas vezes depois disso para solicitar Subsídios para Assistência em Casos de Desastres que socorreram pessoas em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Maranhão, Santa Catarina, Sergipe, Alagoas e Bahia.
Sem contar as iniciativas financiadas ao redor do planeta para proteger nossas comunidades da Covid-19 e muitos outros projetos que viabilizaram equipamentos hospitalares, ilhas digitais, lavanderias comunitárias, poços e cisternas de água, bolsas de estudos, intercâmbios profissionais… Já vi de tudo.
Mas o que mais me marcou foi o poder que o Rotary nos concede para salvar vidas e transformar histórias. Muitos sabem que durante a pandemia perdi minha amada mãe em decorrência de uma intubação malsucedida. O que vi na primeira onda da pandemia nos hospitais por onde passei com ela, quando nós dois estávamos com Covid, foi algo indescritível, com cenas de filmes de catástrofe, um verdadeiro caos. O ar me faltava, 50% dos meus pulmões estavam marmorizados, mas a prioridade era minha mãe, encontrar uma unidade de tratamento intensivo para que ela pudesse receber cuidados dignos. Eu pedia a Deus por uma vaga para ela, mas aquilo me doía muito, pois sabia que conseguir um leito naquele momento praticamente significava a perda da vida de outra pessoa.
Depois de dois dias de luta, encontramos uma vaga. E, mesmo com o coração partido, deixei minha mãe seguir para a unidade de tratamento intensivo. Ela pedia para não ir, pois achava que não voltaria. E estava certa. Mas o que eu poderia fazer além de ouvir os médicos e aceitar o que eles julgavam que seria melhor para ela?
Infelizmente, não foi assim. Na primeira noite, minha mãe teve duas paradas cardíacas durante uma tentativa desastrosa de intubação, o que resultou na falta de oxigenação no cérebro. Ela ficou em estado vegetativo por 45 dias no hospital e, depois, durante outros dez meses recebendo cuidados de home care em nossa casa antes de falecer. Tudo aquilo foi um pesadelo, uma situação pela qual jamais imaginaríamos passar.
Por muito tempo pensei que havia sido minha culpa. Para ser sincero, às vezes ainda penso nisso. Não havia mais o que fazer por minha mãe. Mas algo poderia ser feito para que outras pessoas não passassem pelo que ela passou. Foi aí que eu soube que no Ceará, minha terra, havia sido inventado um capacete de alta pressurização de oxigênio que evitava a intubação dos pacientes. Criado por diversas organizações públicas e privadas, o Capacete Elmo foi desenvolvido na Escola de Saúde do Ceará, na Universidade Federal do Ceará e na Universidade de Fortaleza.
Criamos um grupo de trabalho no meu clube que, num prazo recorde de menos de 30 dias, conseguiu aprovar a parceria com clubes norte-americanos para a compra de 50 capacetes para hospitais do Ceará e de outros 50 e 40, respectivamente, para unidades de saúde do Piauí e do Maranhão. Muitas famílias foram poupadas de passar pelo que nós passamos. E algo acalentou meu coração, me deu um pouco de paz. Se no meu clube essa iniciativa foi batizada como Projeto Capacete Elmo, para mim ela se chama Yolanda Maria Barbosa de Vasconcelos. Minha mãe.
Neste mês dedicado à Fundação Rotária, não poderia deixar de mencionar nosso trabalho de combate à pólio iniciado em 1985, quando, depois de acabarmos com essa doença nas Filipinas, fomos chamados a erradicá-la no mundo inteiro. Naquela época, havia 370 mil casos anuais. Neste ano de 2023, depois de quase quatro décadas de muito esforço, até o dia 6 de outubro havíamos contabilizado apenas oito casos. A poliomielite, que era registrada em 70% dos países, hoje está restrita a apenas dois, Afeganistão e Paquistão. Países de muitos desafios geográficos, políticos, logísticos, culturais e religiosos. Mas chegaremos lá. Como afirmei, ninguém nos segura quando estamos unidos. Mas para isso precisamos seguir vigilantes e continuar fazendo nossas doações para finalmente encerrarmos essa luta.